Dornélio Silva
Durante o debate na Record desta segunda-feira (18), a frase da candidata Ana Júlia - “ele gosta de números, eu gosto de pessoas” -, reagindo aos argumentos de Simão Jatene, me chamou a atenção pela insistência, pela repetição. Faz-me lembrar dos tempos em que estudávamos a análise de discurso na faculdade. É muito interessante fazer esse exercício a 12 dias da eleição do dia 31 de outubro. Apenas um verbo na frase, gostar, repetido em duas conjugações: “ele gosta”, “eu gosto”; uma preposição, de, repetida em dois momentos: “...de números” “... de pessoas”. Dois substantivos, “números”, “pessoas”. Gostar é um verbo que tem uma conotação forte, expressa vários sentidos. Como verbo transitivo indireto, as pessoas podem ‘achar bom gosto ou sabor em alguma coisa’, por exemplo, “Jatene gosta de fazer a conta certa”, ou ainda, “Ana Júlia gosta do calor das pessoas”. Ainda como transitivo indireto, pode-se ‘achar alguém ou alguma coisa bom ou belo’: “Jatene gostou do tipo de resultado apresentado na pesquisa”; já “Ana Júlia gostou do belo tipo de pessoa apresentada na reunião”. O verbo gostar vai mais além, apresenta sentido de ‘ter amizade, amor ou simpatia’: “Jatene gostou dos números positivos de sua gestão”; já “Ana Júlia gostou dos jovens que foram lhe abraçar”. Como transitivo indireto, o verbo gostar tem sentido, também, de ‘ter inclinação ou tendência para alguma coisa’: “Jatene sempre gostou de ver a quantidade de tucunarés pescados”; já “Ana Júlia gostou de sentir o calor da quantidade de pessoas no evento festivo”. Finalmente, o verbo gostar apresenta-se significando ‘aprovar’: “Jatene gostou dos números da última pesquisa”; já “Ana gostou da caminhada cheia de militantes no bairro central”. ‘Gostar de números’ pode significar “gostar do número de pessoas que votaram em Jatene no primeiro turno”; como ‘gostar de pessoas’ pode significar um número grande de pessoas ou um grupo seleto de pessoas. Como se percebe Gostar de Números e Gostar de Pessoas, dependendo do ponto de vista do discurso, pode significar muita coisa. Fica a pergunta no ar: Quem vai gostar ‘de que’ e ‘de quem’ no dia 31 de outubro?
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