terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A PROPINA: UM CAIXÃO PRA VOCÊ E PRA FAMÍLIA

Por Dornelio da Silva

Há 14 anos na pérola do Tapajós, cidade que possui a melhor praia de água doce do mundo, a praia de Alter-de-chão, surge um fato um tanto quanto inusitado de propina para ganhar licitações na prefeitura de Santarém, administrada a época pelo atual deputado federal Lira Maia. A personagem principal deste episódio é o sr. Carneiro. Ele havia assumido a chefia de licitação da Prefeitura. E o primeiro trabalho licitatório: contratação de uma empresa para fornecimento de caixões para enterrar pessoas de baixa renda.
Mais antes uma discussão acalorada para definir os modelos de caixões. Já havia três tamanhos padrões de caixões: natimorto (bebês mortos recém-nascidos), médios e grandes (em torno de dois metros de comprimento). Carneiro propôs apenas dois tamanhos: pequeno e grande. Houve a reação imediata dos que defendiam os três modelos: ´um natimorto num caixão pequeno fica folgado e sobram espaços no caixão´. Carneiro imediatamente retrucou: “não tem problema, a gente orienta os familiares a enxertarem os espaços vazios com flores, roupinhas, para encher os espaços e fica, assim, confortável”. Convenceu. E o grande (em torno de dois metros)? Outra discussão. Os que discordavam da metragem afirmavam que a média da população é em torno de 1,70m. Carneiro, prontamente, veio em defesa da nova metragem: “até parece que vocês não sabem, quando a pessoa morre incha, cresce vários centímetros, então o caixão estará pronto para receber esses corpos inchados sem haver necessidade de quebrar o caixão e aumenta-lo”. Silêncio no grupo. Todos se entreolharam. Carneiro novamente convenceu.

Edital pronto, edital publicado. Chega o dia da licitação. Cinco empresas se habilitaram para concorrer ao fornecimento de caixões para a Prefeitura. Alguns empresários de caixões haviam ajudado na campanha vitoriosa do prefeito e, evidentemente, queriam, agora, a recompensa. Acontece que não haviam avisado o Carneiro. No dia da licitação, nos corredores da Prefeitura, surge um empresário do caixão caminhando, caminhando rumo ao Carneiro. Chamou-o a parte, Carneiro olhou para um lado, olhou para o outro, mas atendeu ao chamado. O empresário alagoano foi logo fazendo a proposta sem meias palavras: “Eu é que tenho que ganhar essa licitação, eu ajudei na campanha do prefeito”. Carneiro, com a maior calma do mundo: “meu amigo se o seu preço for o melhor, você vencerá”. Aquela resposta não era a garantia de nada. O empresário não se conteve, investiu mais pesado: “Seu Carneiro, faça eu ganhar essa licitação, eu dou um caixão pra você e pra toda sua família”. Aquela proposta pareceu um tapa na cara do Carneiro. Carneiro ficou vermelho, suou frio, ficou alguns segundos em silêncio. Pensou: ´esse sacana tá desejando a minha morte e de minha família, vou dá um soco na cara dele´. Mas, Carneiro se conteve, olhou o alagoano de cima a abaixo e saiu sem dizer uma palavra. O empresário de caixão alagoano não ganhou a licitação.

Um ano depois desse episódio morre a mãe de Carneiro. No velório, quem surge? O empresário de caixão alagoano. Carneiro quando o viu partiu pra cima gritando “sai daqui, sai daqui seu..... ninguém te convidou!! Sai daqui”. Ninguém entendeu a atitude do Carneiro. Só depois do enterro de sua mãe que ele pode contar para algumas pessoas o porquê daquela atitude.

Passados alguns dias, a notícia correu rápida na cidade; e um amigo, entre goles de cervejas, comentou: “Pô Carneiro, porque  tu não aceitaste a proposta do cara, todo mês tu pegavas um caixão dele, ia juntando, juntando... e hoje tu tinhas uma funerária, pô!!! E até me convidava pra trabalhar contigo!”

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