Por Dornélio da Silva
Na eleição para prefeito, em 2004, numa próspera cidade do sudeste paraense, fui convidado para “tirar a prova dos nove” numa disputa eleitoral em que corriam números de pesquisas pra todos os gostos e todas as cores partidárias. Faltavam 15 dias para a eleição. Fui contatado em Belém por um dos consultores de um candidato: “quero que você vá lá, leve equipe aqui de Belém e diga a verdade porque temos muitas pesquisas e a gente não sabe qual delas está falando a verdade”. Preparei equipe e fui pra terra do minério. Equipe em campo. Processamento imediato no hotel. Resultado na mão. Equipe de consultores no hotel, resultado: nada favorável ao candidato contratante. Como a equipe de coordenação da campanha tinha pesquisas internas, achavam que a nossa iria detectar a tendência de crescimento do candidato. Nada disso. E agora, o que fazer? Como dizer ao candidato? E o que dizer?
Levaram-me pra uma fazenda pra um churrasco. Era o aniversário de uma das lideranças políticas do município. Lá estavam grandes empresários da cidade que poderiam injetar “combustível” na campanha.
Os consultores me levaram pra mesa onde estava o candidato, que estava apreensivo pra ouvir alguma coisa nova, de dados de pesquisa. Os consultores sempre perto de mim e do candidato, conversando sobre outros assuntos, menos pesquisa. Um descuido, um lapso, os consultores se afastaram de mim e do candidato. Ficamos a sós, então ele me perguntou de “bate-pronto”: “ainda tem jeito, dá pra virar?”. Então, olhei para um lado e outro, gaguejei um pouco, “bem, tá difícil, só grana e muita grana; hoje é uma reunião importante aqui e o senhor poderá arrecadar um bom recurso para essa reta final!”. Ai ele se levantou da mesa, “eu sabia, perdi a eleição! Vou me embora!”. Levantou-se, entrou no carro e se mandou pra sua residência. Quando os consultores perceberam o candidato saindo: “o que aconteceu, porque o candidato tá indo embora?”. A esposa do candidato falou: “ele perguntou pro Dornélio se tinha jeito, ai respondeu que tava difícil; então o candidato concluiu que tinha perdido a eleição, que não tinha mais nada pra ele”.
Entramos em outro carro e fomos até a casa do candidato pra falar da situação. Estava trancado no quarto. Mandou dizer pela sua esposa que não queria falar com ninguém, queria ficar sozinho! Sendo assim, fomos para um bar tomar umas cervejas e terminar a noite. O candidato, de fato, perdeu a eleição.
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